O adágio é antigo: em Roma sê Romano. «Mutatis mutandis», certo também, é agora dizer, actualizando: entre infantes sê infante.

Portugal está infantilizado, cada vez mais infantilizado, sem surpresa: é uma das inevitáveis consequências a que sempre conduz uma longa exposição ao Socialismo.

De facto, para além de sempre conduzir os povos à miséria económica, o Socialismo não deixa de tender a todos conduzir igualmente à indigência mental, tal como se torna, infelizmente, cada vez mais patente também entre nós _ dependendo a rapidez e a respectiva extensão devastadora atingida apenas do grau de Socialismo real efectivamente aplicado.

Para o estado de infantilização em que nos encontramos há grande responsabilidade, activa contribuição e manifesta permanente instigação do actual Presidente da República para que assim seja?

Com certeza, como temos afirmado, mas está longe de ter responsabilidade exclusiva, bem pelo contrário.

Em rigor, poder-se-á mesmo advogar ser mais vítima inconsciente do que autor, ou mesmo causa única e imediata, dessa tão nefasta quanto devastadora tendência, o que se verifica é que, na ânsia obsessiva de a todos permanentemente agradar, de à mínima manifestação de dissensão logo acorrer em busca de tudo apaziguar, outra possibilidade não tem senão a de seguir, adaptando-se e submetendo-se, integralmente, ao condicionamento mental que hoje tudo e todos subjuga, confundindo-se até desaparecer inteiramente indiferenciado na multidão predominante.

Perdido entre as boas-intenções os mais nobres sentimentos altruísticos que o caracterizam, não conseguirá entender mesmo o que se passa e se encontra verdadeiramente em causa, ou seja, conduzir a Civilização, o Mundo Ocidental, pela destituição do poder operativo do pensamento, primeiro, e, logo depois, à consequente infantilização, à sua inevitável autodestruição.

Nada de novo.

O processo seguido é, de resto, bem conhecido, iniciando-se pelo repúdio da transcendência, pela negação da verdade enquanto verdade, ou seja, enquanto princípio, e chegando, por consequência, à rejeição da lógica, tornando assim tão impossível quanto inútil todo o pensamento, mais não fica senão a retórica, ou seja, o raciocínio desenvolvido apenas por entimemas em busca da simples verosimilhança dada pela sucessiva aproximação de simples imagens, sentimentos e emoções, de onde resultam as narrativas, convicções e jogos-de-palavras, como é tão característico também dos tempos actuais.

A par disso, sabendo não se pensar por palavras mas não haver pensamento sem palavra, a melhor, mais directa e eficaz forma corromper, perverter e, por fim, condicionar igualmente o pensamento, é começar por corromper, subverter e anular todo verdadeiro poder da palavra, destituindo-a de todo o significado, anulando a mais decisiva distinção entre significante e significado, até que fique a brilhar tão só, única e exclusivamente, a intensa carga emocional que as mesmas palavras sempre contêm também, ganhando assim todo o discurso, como o discurso político, em valor emocional quanto perdem, em directa proporção inversa, de valor cognitivo.

Quase escusado lembrar já como é o sábio despertar das emoções e sentimentos quanto melhor serve à condução _ para o bem e para o mal _ das multidões pela prerrogativa conferida ao primado do sentimento sobre o pensamento, mas talvez importe não esquecer a tese defendida tanto por Gibbon quanto por Ortega y Gasset, de a queda do Império Romano ter sido antecedida pela decadência da língua.

Exagerado?

Atendamos a dois simples exemplos da confusão mental a que a perda de significado das palavras conduz, não podendo tal confusão mental não deixar de conduzir, no caso, a uma não menor confusão política quando todos, iludindo-se, por um lado, pelo facto de estarem todos a falar do mesmo estão, na verdade, a falar de realidades muito diferentes, assim como a total e perfeita inconsequência do que se diz ou afirma, e que se diz ou afirma como pura retórica.

Por exemplo, não há hoje quem venere, reverencie e celebre tão universal quanto sacrossanto conceito como o de «Democracia», a quem todos devemos prestar não apenas culto mas até mesmo adorar, de um ponto de vista político, acima de tudo o mais, sabendo todos, perfeitamente, do que estamos a falar.

Parece pacífico e não oferecer dúvidas, da Esquerda à Direita, como se costuma dizer.

Todavia, quando um Jerónimo de Sousa entende poder ser legítimo considerar o Regime da Coreia do Norte um Regime tão «Democrático» como qualquer outro Regime Democrático, estar-se-á a falar de um mesmo e único conceito de «Regime Democrático» ou de um mesmo e único conceito «Democracia»?

Não, mas actuando todos como se assim fosse, percebe-se, irá, inevitavelmente, conduzir-nos, sendo realmente essa a grande «arte» dos «Tempos Modernos» e da Esquerda, ou seja destituir as palavras de verdadeiro significado para, dotando-as de uma nova forte carga de «significado» emocional, melhor conduzir as multidões onde as multidões nem imaginam estarem a ser subtilmente conduzidas.

Como diria Freud, «quem começa por ceder nas palavras acaba inevitavelmente a ceder nas ideias».

E se referido foi a inconsequência a que a destituição de significado das palavras conduz também, perfeito exemplo disso mesmo não deixa de ser, evidentemente, as recentes afirmações do Presidente da República a asseverar séria, emocionada e quase compungidamente, assumir a inteira responsabilidade por tudo quanto, ao longo do tempo, tem corrido mal na gestão da pandemia.

O que pretende realmente o Presidente da República significar com tais palavras?

Quer significar, e significa, estar a pensar assumir pessoalmente a indemnização de quem foi inocente vítima dessa mesma assumida má gestão?

Quer significar, e significa, estar a equacionar indemnizar pessoalmente as famílias de todos quantos morreram (não crendo nós estar nas suas mãos trazer à vida quem a alma entregou já ao Criador) e, não fora os erros cometidos na gestão da mesma crise pandémica, em diferentes condições e com distinta gestão, talvez pudessem ter sobrevivido?

Quer significar, e significa, estar a ponderar indemnizar pessoalmente, ou dar emprego, a quem, devido aos erros cometidos na gestão da crise pandémica, o perdeu, ou viu os respectivos negócios falirem, mas, em diferentes condições e com distinta gestão, talvez possível fosse ter conseguido mantê-los?

Quer significar, e significa, estar a reflectir a possibilidade de renúncia ao cargo por entender haver, eventualmente, outros mais habilitados a terem sucesso onde, assumidamente, não teve, ou irá procurar simplesmente uma reeleição para tentar redimir-se, procurando vir a realizar o que antes não soube mas, agora, sob diferentes condições, com a experiência adquirida e uma profunda reflexão realizada, irá conseguir, com toda a certeza, plenamente materializar?

Perguntas ou interrogações meramente retóricas, dir-se-á, uma vez serem as respostas já perfeitamente conhecidas?

Possivelmente.

No entanto, tão significativo, ou ainda mais, não é igualmente o facto de não só nenhum jornalista se ter lembrado alguma vez de dirigir alguma questão nesse sentido ao actual Presidente da República e recandidato presidencial, assim como, aparentemente, tal não ter ocorrido tampouco a qualquer um dos restantes candidatos na actual disputa Presidencial?

Possivelmente…

E qual o grande tema da última semana de campanha eleitoral _ para além da mais séria crise pandémica que assusta, preocupa e tantos, compreensivelmente, agustia?

As palavras de André Ventura sobre o «batom vermelho» usado por Marisa Matias e o «avô bêbado que todos temos lá em casa», numa estranha e algo incompreensível, e um tanto patética, referência a Jerónimo de Sousa.

Se tudo isto não soa a pura infantilidade, seja tanto pelas próprias afirmações quanto pela atenção conferida às mesmas, difícil é entender já o que infantilidade seja ou possa significar.

Sendo o seu directo concorrente João Ferreira e não Jerónimo de Sousa, não só não se entende a referência ao segundo como o que realmente se estranha é que nada de mais sério, nada de realmente sério, tenha a dizer sobre essa candidatura, não em termos pessoais, mas em termos políticos _ e não seria difícil.

João Ferreira é candidato oficial do PCP que se apresenta como o grande defensor da Constituição que o mesmo PCP sempre reprovou _ salvo na última revisão, se a memória não nos falha, em que se abstiveram _ e para quem, possivelmente, sendo o Mundo o que gostaria que o Mundo fosse, ainda viveríamos sob a tutela do Conselho da Revolução, com os sectores ditos «estratégicos», do Sector Bancário à Informação Televisiva, nacionalizados e fechados à livre iniciativa, tal como a referência a Portugal ser uma «Nação a caminho do Socialismo» não nunca teria deixado de ser o seu preceito mais determinante e decisivo _ tudo quanto, havendo oportunidade, João Ferreira e PCP não deixam de sonhar poder um dia vir a reintroduzir.

Para além disso, e mais gravemente ainda, quanto importa nunca esquecer é a sua responsabilidade ­_ embora, neste particular, mais quando ao PCP como Partido do que a João Ferreira pessoalmente, dada a sua idade _ não apenas na destruição económica de Portugal, como, grande parte, do nosso afastamento do Mar, não apenas pela sistemática devastação do nosso tecido empresarial, sobretudo nos anos mais críticos da Revolução, ou seja, do chamado Processo Revolucionário em Curso, entre 1974 e 1975, como pela directa ruína de todo o sector da Marinha de Comércio porque falar então do Mar não podia deixar de significar senão «saudade» do Império e dos tempos idos do Estado Novo  _ o que ficou e se entranhou de tal forma que, ainda não há muitos anos, defender a importância do Mar para Portugal era logo ser tido, no mínimo, como «fascista» _ assim como de toda essa devastação, não por acaso, ainda hoje sofremos amargamente as respectivas consequências.

Não nos devemos surpreender.

Sendo o PCP um Partido Marxista-Leninista-Estalinista, o seu interesse nunca foi Portugal mas, à época, a entrega das antigas Colónias Ultramarinas, e muito especialmente Angola, à órbita Soviética, tal como veio a suceder, sendo assim não só perfeitamente legítimo como até mesmo de muito louvar tudo quanto se fizesse para o cumprimento de tal objectivo, mesmo que necessário fosse diminuir Portugal _ o que justificava perfeitamente começar por, desde logo, afastar Portugal do Mar, de onde poderia vir ainda uma réstia de consciência de si e de inesperada força.

Dir-se-á terem passado já mais de 46, quase 47, de 1974 e os tempos serem hoje muito diferentes?

Nem por isso.

O PCP continua a ser o mesmo Partido Marxista-Leninista-Estalinista de sempre.

Essa a sua matriz, essa a natureza, e, consequentemente, não só, doutrinariamente, nada tem a ver com Portugal como o mesmo ódio de ontem à Civilização, ao Ocidente, é exactamente o mesmo de ontem _ e daí sempre a mesma persistência na guerra à NATO, à União Europeia e a uma visão Marítima para Portugal.

Iludir-se-ão ainda alguns mais ingénuos por João Ferreira ter hoje afirmações, aparentemente, de carácter muito «patriota»?

Com certeza, reconheça-se assim ser, como se reconheça igualmente não ser apenas por uma simples questão táctica, mas que, se assim é, é, acima de tudo, não por qualquer razão de verdadeiro «patriotismo» mas por não ser possível ao Comunismo implantar-se, seja onde for, senão como Nacional-Socialismo.

João Ferreira sabe-o e joga brilhantemente com isso.

Imagina-se ser brincadeira?

Atenda-se então à «brincadeira» da natural aproximação e consequente assinatura do famoso Pacto Ribbentrop-Molotov, ou dito também Pacto Germano-Soviético, que logo não deixaria de conduzir ao desencadear da terrível e catastrófica II Guerra Mundial.

Quem tiver dúvida sobre quanto se afirma, faça o favor de conferir as principais linhas de afirmação política actuais de João Ferreira com os preceitos políticos programáticos defendidos por Hitler para a edificação da nova Alemanha Nacional-Socialista, para o futuro «glorioso» III Reich, e julgue as semelhanças e proximidade por si.

E tudo isto que é de simples evidência, pelo referido condicionamento mental em que nos encontramos e vivemos, parece escapar também à esmagadora maioria, senão mesmo à totalidade, dos nossos muito argutos comentadores políticos, para quem, propondo e apresentando, tanto João Ferreira como Marisa Matias e Ana Gomes, propostas e práticas profunda e reconhecidamente antidemocráticas, porque são figuraras reconhecidas _ vá-se lá entender porquê _ intrinsecamente democráticas, apresentarem propostas e práticas profundamente antidemocráticas, não tem qualquer importância, verificando-se, todavia, exactamente o inverso com André Ventura que, não apresentando quaisquer propostas e práticas antidemocráticas, porque é figurara entendida, por definição, como intrinsecamente antidemocrática, exactamente como tal é menosprezado e tratado, em mais um excelente exemplo do que significa e onde conduz o primado do sentimento e da emoção sobre o pensamento.

Não, o que importa não é o que os candidatos defendem, que propostas apresentam, que práticas é suposto seguirem, mas a impressão que cada um terá de cada um.

Brilhante.

Infelizmente, é nisto que estamos e na perfeita inconsciência que todos os actuais candidatos da Nação Marítima que Portugal é e da importância do Mar para Portugal, seja para a afirmação da sua Liberdade, da sua Soberania, Independência, o que significa também até mesmo do ponto de vista Económico.

Mais do que o «batom vermelho» de Marisa Matias e da estranheza do «avô bêbado que todos temos lá por casa», não devia preocupar a André Ventura o nosso afastamento do Mar?

Provavelmente, mas provavelmente preocupa tanto a André Ventura quanto preocupa a Marcelo Rebelo de Sousa, ainda actual Presidente da República e, por isso mesmo, com mais responsabilidade sobre tal assunto, como, nesse aspecto, infelizmente, o debate entre ambos não deixou de ser particularmente esclarecedor.

Se André Ventura se manifesta muito preocupado com os ditos «marroquinos» que desembarcam na Costa do Algarve armados de iPad e iPhone e logo têm direito, se necessário, a tratamento hospitalar, contrapõe Marcelo Rebelo de Sousa uma visão de Estado e, ainda por cima, de quem exerce também as funções de Comandante Supremo das Forças Armadas?

Longe disso, deixa passar o assunto completamente em branco, como sem especial relevância.

No entanto, como referimos já em Editorial anterior, o que está em causa no Algarve, muito mais do que a entrada, controlada e descontrolada, de um ou outro «marroquino», é estarmos, sob esse pretexto _ também nem se saber exactamente quanto controlada ou descontrolada é _ a ser subtil e insidiosamente conduzidos à aceitação de futura constituição de uma verdadeira Guarda Costeira Europeia, prólogo para a aceitação e plena concretização também do conceito de Mar Europeu _ o que muito nos devia preocupar a todos, tal como, porém, não se afigura suceder nem relação a Marcelo Rebelo de Sousa nem tampouco a André Ventura.

Não surpreende.

Como se viu no debate, para Marcelo Rebelo de Sousa o importante não é termos consciência da Nação Marítima que somos e temos de saber ser, distinguirmo-nos do pequeno destroço Continental em que muitos outros parece querem transformarmo-nos, mas distinguir-se, a si, tão só e apenas, de André Ventura e da imagem negativa de «Extrema-Direita», «Racista» e «Xenófobo» a que, eventualmente, teme ser associado, ou, pelo menos, aproximado, não encontrando melhor «distinguo» do que afirmar-se, acima de tudo, como «Católico-Social».

Católico-Social?

Não se afirmava Mussolini, embora não Católico, também muito Social _ e tanto mais quanto durante longo tempo muito próximo, inclusive, do Sindicalismo Revolucionário de um Sorel?

E não tinha Hitler, que detestava os Católicos, uma mesma preocupação, ultrapassando, inclusive, como Marcelo Rebelo de Sousa, os partidos numa muito especial, directa e pessoal ligação à nação?

E não afirmariam um Lenine, um Trotsky e até um Estaline uma mesma semelhante preocupação e «distinguo»?

O que pretenderá Marcelo rebelo de Sousa significar realmente com a sua muito particular preocupação «Social»?

Será que, pelo que foi possível seguir no debate entre Tiago Mayan, preconiza uma terceira via entre o Socialismo mais tradicional, se assim se pode dizer, e o Capitalismo, ou Liberalismo _ o que, hoje-em-dia, tende a confundir-se _ mais Norte-Americano ou Anglo-Saxónico, exactamente como sucedia com Mussolini e Hitler, assim como, embora em diferente enquadramento, um de Gaule?

É certo que não sendo Tiago Mayan um verdadeiro Liberal, ou seja, alguém que ainda confunde Liberalismo com «Mercado Livre», não se distinguindo assim, tanto do «Socialismo de Rosto Humano» como da «Social-Democracia», senão por uma questão de grau de aplicação da mesma «liberdade de mercado», assim como não fazendo igualmente ideia de que o verdadeiro Liberalismo, antes de ser uma questão de Economia, é uma questão de Direito, não ajudou grande esclarecimento.

Tivesse Tiago Mayan outra preparação e talvez pudesse ter lembrado a Marcelo que o Liberalismo, o verdadeira Liberalismo, não é mais senão a doutrina deduzida da Liberdade e da Individualidade que o Cristianismo trouxe ao Mundo _ ou, como Hegel diria, «se no Império Oriental só um era livre, se no mundo antigo só alguns eram livres, com o Cristianismo todos passaram a ser livres».

Meditasse Tiago Mayan sobre Portugal e a decisiva importância do Mar para o futuro Portugal, e talvez lhe tivesse ocorrido pensar a singularidade de Portugal na Europa e, muito em particular, a singularidade em relação a Germânicos e, reflectindo sobre essa diferença, talvez lhe tivesse ocorrido também quanto nos afastámos de nós quando nos aproximámos do grande Hegel e, com o grande Hegel talvez tivesse sido capaz de «sensibilizar» o Presidente «Católico-Social»…

É certo que, nos tempos actuais, um político afirmar-se como «Católico», soa estranha e não deixa, inclusive, de ser algo complexo.

Nos anos 60 e 70 do Século passado, em nome da «descripação» muitos Católicos houve que, ditos «Católicos Progressistas», pretendendo como tal ser reconhecidos, não deixaram de tentar promover um activo diálogo com os Marxistas, tendo então o famoso Garaudy, uma dos mais celebrados marxistas franceses da época, para quem Estaline era o maior filósofo do Sec. XX e que não deixou de escrever uma longa missiva ao Papa Paulo VI a propósito desse possível diálogo, nem deixado de afirmar, em simultâneo, embora em diferente circunstância, ser, afinal, o diálogo entre uns e outros muito fácil, bastando aos «Católicos» abandonarem a crença em Deus para logo todas as diferenças se esbaterem. Assim, o ser «Católico Progressista» ainda tinha algum sentido específico, mas hoje, encontrando-nos já em muito diferente e distinto Século, é realmente difícil entender o porquê de tal afirmação _ e mais ainda dado o conhecido preceito de «dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César», nunca sendo muito certo o que deve ser deixado a César e dado a Deus.

Todavia, falecendo-nos as necessárias capacidades exegéticas para mais avançarmos em tal decifração, o que parece certo é que, mais «Católico-Social» menos «Católico-Social», mais «Direita-Social» menos «Direita-Social», não se reconhecendo, na ordem da existência, antes de mais e acima de tudo, como Português, o Mar conta pouco para o actual Presidente da República, ou candidato Marcelo Rebelo de Sousa  _ se é que algo conta _ e, enquanto tal, incapaz é de perceber que, hoje, como ontem, mais do que uma divisão entre Esquerda e Direita, o que verdadeiramente divide os Portugueses é a visão de Portugal como Nação Marítima, Atlântica e visão de Portugal como pequena Nação Continental à deriva, com todas as consequências que daí advêm.

Não o compreende Marcelo Rebelo de Sousa como tampouco qualquer outro dos restantes candidatos seus concorrentes, seja por uma razão, seja por outra, quanto há longos anos temos tentado, com manifesto escasso êxito, chamado a atenção para a decisiva importância Geopolítica, Geoestratégia e Económica do Mar para o futuro de Portugal?

E é exactamente por isso que, a dois dias da data das eleições presidenciais, entre os receios da pandemia e o superior sentido do «dever cívico», nos ocorre uma dúvida melancólica: estará André Ventura certo? Será que devemos começar também a falar do «batom vermelho» da Marisa Matias e do «avô bêbado que todos temos lá em casa» para chamar a atenção para a decisiva importância Geopolítica, Geoestratégia e até Económica do Mar para o futuro de Portugal?

Afinal, quanto leitores não abriram este Editorial apenas porque o título era, «André Ventura está certo: em Roma sê Romano?», e não algo como, «Da decisiva importância do Mar para o futuro de Portugal»?…

Enfim, assunto a meditar amanhã, em «dia de reflexão»…



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