Plasticus Maritimus

A convite da Câmara Municipal de Cascais, a bióloga marinha Ana Pêgo inaugurou ontem no Dia Nacional do Mar, a sua exposição Plasticus Maritimus, no Centro de Interpretação Ambiental da Ponta do Sal, em São Pedro do Estoril. Dedicada a objectos plásticos recolhidos nas praias do concelho de Cascais por Ana Pêgo, a exposição ficará patente no local durante seis meses.

Conforme nos explicou a autora, o termo Plasticus Maritimus é inventado por ela e designa uma “espécie invasora que subtilmente” nos rodeia sem que lhe demos importância, mas que tem potencial para fazer estragos ambientais e não só.

A espécie descoberta (e recolhida) por Ana Pêgo inclui uma vasta gama de objectos de plástico ou com plástico, como isqueiros, formas de brincar para crianças, palhinhas, bonecos (incluindo alguns oferecidos como brindes na compra de gelados Olá e Rajá nos anos 60 e 70), tinteiros de impressoras, garrafas, garrafões, entre muitos outros.

Ao recolher e expor estes objectos, Ana Pêgo pretende que “as pessoas se apercebam da variedade de coisas que vêm parar à praia”. E acrescenta que “tudo vem parar à praia e às vezes em quantidades alarmantes”.

A autora elaborou mesmo um top 10 do lixo marinho das praias portuguesas, que inclui, por esta ordem: (1º) beatas de cigarros, (2º) cotonetes, (3º) embalagens alimentares, (4º) tampas de garrafas, (5º) garrafas de água, (6º) redes e cordas de pesca, (7º) pacotes de bebidas, (8º) sacos de plástico, (9º) latas de bebidas e (10º) garrafas de vidro.

 

O projecto

 

O projecto de recolha de lixo marítimo nas praias nacionais surgiu na sequência do trabalho de educação ambiental que a bióloga tem desenvolvido nos últimos anos relacionado com a fauna marinha, designadamente, ateliers para crianças sobre a diversidade de animais que podem ser encontrados à beira-mar.

“Nas idas à praia, apercebi-me do lixo marinho que ali se encontrava e passei a querer inclui-lo nos meus ateliers”, referiu Ana Pêgo ao nosso jornal. Com base nessas recolhas, foi criando colecções, por cores, formas, dimensões e outros critérios ao seu gosto.

Em 2014, juntamente com o fotógrafo Luís Quinta, desenvolveu um projecto original: a Balaena Plasticus, um esqueleto de baleia feito com peças de plástico branco apanhadas na costa de Cascais e Almada. O projecto foi apoiado pela Câmara Municipal de Almada, exposto e premiado.

Já em 2015 criou uma página no facebook denominada Plasticus Maritimus. A partir do diálogo gerado por esta página, tomou contacto com pessoas que faziam o mesmo e passou a interessar-se pela história de alguns dos objectos recolhidos.

Foi assim que soube que os vários tinteiros HP que recolhera pertenciam a um contentor que caíra ao mar em 2014 e se espalhara pela águas da Europa, ou que um saco de água potável da Marinha russa pertencia a um navio que por aqui passara, ou que uma PEN perdida tinha vídeos que permitiram devolvê-la ao dono, ou que uma bóia provinha de um barco de pesca do espadarte em New Jersey.

Na prática, o projecto tem uma função sensibilizadora relativamente ao problema do lixo marinho, em particular, os resíduos plásticos. De acordo com dados do Governo, distribuídos por ocasião da assinatura de um protocolo de cooperação entre a Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC) e outras entidades para monitorização do lixo marinho, “cerca de 70% de todo o lixo marinho é constituído por plásticos e os restantes 30% correspondem a outros materiais como vidro, papel, metal, têxteis, entre outros”.

Ana Pêgo tem outro número: segundo a bióloga, os plásticos totalizam 80% do lixo marinho. E metade dos plásticos que usamos são descartáveis, ou seja, só usáveis uma vez, e não são recicláveis. Exemplifica com alguns copos, pratos e talheres de plástico. “É algo que muita gente desconhece porque não está informada”, refere.



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